Abordagem geral das DII

A médica Marta Brenner Machado fez uma apresentação sobre as doenças inflamatórias intestinais para médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde e explicou que a DII não é fácil para quem está no atendimento e nem para os pacientes. A presidente da ABCD enfatizou que é uma doença que, se não bem tratada, pode trazer danos irreversíveis. “Às vezes, me sinto uma arquiteta: quando o paciente que é portador de DII chega em meu consultório, que é meu cliente, começo a conversar porque preciso planejar a reconstrução e a reforma da ‘casa’. Preciso conversar para entender todos os sintomas, se já tem o diagnóstico prévio ou ainda não tem, onde é a doença, qual a manifestação, quais exames já fez, se tem anemia, se está desnutrido, saber a história prévia de tudo, ou seja, uma completa e cuidadosa história clinica. São muitas as perguntas que temos de fazer, além de um exame físico completo”, ressaltou.

Também é preciso entender os sintomas que o paciente apresenta, número de evacuações diárias, se já esteve ou está em remissão clínica, se está usando alguma medicação e dose, tempo e como ficou com o tratamento… Se for uma criança, precisamos avaliar a curva de crescimento e o desenvolvimento adequado. Somente depois de uma longa conversa e de avaliar os exames e o histórico do paciente será possível planejar os medicamentos, por isso a importância desse olhar diferenciado sobre a doença. “Precisamos ter esse olhar para uma tomada de decisão baseada em critérios clínicos, laboratoriais, radiológicos, endoscópicos e histológicos. Precisamos individualizar o paciente, porque alguns têm a doença leve, outros moderada e outros quadros graves”, ensinou.

A DII pode se manifestar na região perianal, no intestino delgado e no intestino grosso, mas também pode se apresentar com manifestações extraintestinais na boca, nos olhos, no esôfago, no estômago, na pele, nas articulações, no fígado e, menos frequentemente, em lesões pulmonares, cardíacas, pancreáticas e do sistema vascular. “É importante saber que a DII pode ter manifestação fora do intestino. Muitas vezes, o intestino está muito bem e esse paciente tem uma manifestação reumatológica grave, como as espondiloartrites, ou oftalmológicas como a uveíte, por exemplo, e vai usar terapia biológica não pelo intestino, mas pela manifestação extraintestinal”, detalhou a doutora Marta Brenner Machado.

Por isso, o médico também precisa conhecer os hábitos do doente: se fuma e tem Crohn, por exemplo, precisa parar de fumar, porque o cigarro triplica a incidência de cirurgia e a falha dos medicamentos. Normalmente, nos ambulatórios de referência chegam só doentes graves que já usaram inúmeras terapias. Neste momento, é preciso saber se utilizaram a terapia certa, na dose correta e pelo tempo certo, e se houve adequada adesão ao tratamento. Também é preciso ver a carteirinha de vacina e se tem doença preexistente, porque vamos precisar”, reforçou. Os médicos devem verificar, ainda, se o paciente não teve contato com tuberculose e se não está com alguma outra infecção.

Durante a apresentação, a médica também explicou quais são e como funcionam as medicações disponíveis. A maioria das medicações deveria estar disponível na rede pública (PCDT), no entanto, em alguns lugares do Brasil é mais difícil de os pacientes conseguirem o acesso. “Acho que essa doença, como a vida, precisa de intimidade. Intimidade com a doença e uma boa relação médico-paciente é tudo para que possamos manejar adequadamente a DII e oferecer uma boa qualidade de vida aos pacientes. Também acredito que cada um tem o seu tempo de aceitar e entender a sua DII, e temos de respeitar o tempo de cada um”, orientou.