Confiança e autoestima para a vida sexual

Confiança e autoestima para a vida sexual

Como evitar que a DII traga dificuldades em relacionamentos afetivos mais íntimos

Presença na internet desde 2011, a blogueira e youtuber britânica Hannah Witton é popular entre os jovens por falar sobre sexo, relacionamentos e dilemas enfrentados por essa   geração. Em janeiro deste ano, devido a uma retocolite ulcerativa, precisou de cirurgia que resultou em colostomia e, a partir daí, passou a compartilhar experiências e dicas com seus seguidores de como recuperou a vida sexual depois da cirurgia.

Com isso, tem ajudado outras pessoas estomizadas, especialmente as mulheres, a superarem preconceitos e se sentirem mais seguras nos relacionamentos mais íntimos. O tema sexualidade é realmente controverso para os pacientes que necessitam de estoma, especialmente porque muitos são jovens, estão em idade reprodutiva e ficam preocupados que o conhecimento da doença pelo parceiro resulte na rejeição e na falta de interesse sexual.

No entanto, dúvidas e angústias sobre o tema precisam ser compartilhadas entre pacientes e seus médicos, para que possam ser esclarecidas e não atrapalhem a qualidade de vida e os relacionamentos.

A médica gastroenterologista Ligia Yukie Sassaki, professora doutora da disciplina de  Gastroenterologia e Nutrição do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FMB-UNESP) e coordenadora clínica do Ambulatório Multidisciplinar de Doenças Inflamatórias Intestinais do Hospital das Clínicas de Botucatu (HCFMB), ressalta que a sexualidade deve ser vista como um dos marcadores da qualidade de vida.

“Os temas envolvidos com o relacionamento interpessoal, a intimidade sexual e emocional, a autoimagem e a atividade sexual devem ser abordados com todos os pacientes e, principalmente, com aqueles que convivem com uma doença inflamatória intestinal”, orienta.

As dificuldades e mudanças na sexualidade vivenciadas pelos pacientes com DII são complexas e desafiadoras e, justamente por isso, a abordagem multidisciplinar e a confiança entre o paciente e a equipe de saúde são extremamente importantes para o adequado manejo da doença e de suas repercussões.

A enfermeira do Ambulatório Multidisciplinar de Doenças Inflamatórias Intestinais do HCFMB, Jaqueline Ribeiro de Barros, mestre e doutoranda pelo Programa Fisiopatologia em Clínica Médica da FMB-UNESP, acrescenta que o profissional da saúde deve compreender qual o significado da palavra sexualidade para o paciente e abordar o tema durante a consulta, lembrando que não se restringe ao ato sexual, mas também envolve o carinho, a masturbação, o prazer, a companhia e, acima de tudo, o respeito entre as pessoas.

“Devemos estar atentos às necessidades dos pacientes abordando todos os aspectos da doença, sejam físicos, emocionais ou sexuais, sempre buscando minimizar o impacto que a DII traz para a vida pessoal deles”, acentua.

Além da questão física, a maioria dos pacientes relata dificuldades relacionadas à presença de diarreia, dor abdominal, perda involuntária de fezes e indisposição, assim como doença perianal como fístulas, fissuras e abscessos, às vezes com saída de secreção purulenta e sangramento. “A fadiga é outro sintoma comum entre os pacientes e muito incapacitante, não só para a atividade sexual como também para todas as atividades da vida diária”, relata a médica Ligia Yukie Sassaki.

A dificuldade em encontrar um parceiro é mais uma questão frequentemente relatada pelos pacientes, porque a doença pode limitar a vida social e os relacionamentos afetivos, principalmente na fase de atividade clínica. Por tudo isso, o parceiro precisa compreender e aceitar as limitações que a doença pode causar na vida do paciente, entender a necessidade do tratamento contínuo e apoiá-lo em todos os momentos da   doença.

Embora a sexualidade da maioria dos pacientes seja afetada pela DII, as mulheres relatam mais dificuldades nos relacionamentos afetivos relacionadas à vergonha, dor e dificuldade de ter relações sexuais, assim como problemas de aceitação por parte dos parceiros e outros prejuízos relacionados à presença de dor abdominal, fissuras ou fístulas.

Os homens, em  geral, não relatam tantas dificuldades nos relacionamentos, porém, a enfermeira Jaqueline Ribeiro de Barros lembra que são mais tímidos quando questionados sobre a sexualidade e as dificuldades nos relacionamentos, o que parece estar mais relacionado aos hábitos culturais do que com a doença propriamente dita.

“Apesar de muitos pacientes relatarem medo de ouvir falar da colostomia ou pânico da ‘bolsinha’, o que observamos no nosso serviço é que os fatores que mais atrapalham a vida sexual são os psicológicos, como a ansiedade e a depressão. Alguns indivíduos que apresentam colostomia costumam relatar vergonha da bolsa, principalmente as mulheres, mas a maioria não relata problemas com a vida sexual”, acrescenta a médica Ligia Yukie Sassaki. 

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Disfunções

A própria DII tende a causar disfunções orgânicas e maior predisposição para transtornos de humor, com altas taxas de ansiedade e depressão que interferem negativamente nos    relacionamentos afetivos dos pacientes, principalmente devido à insegurança com a doença, com as medicações e com o futuro de suas vidas.

Alguns efeitos colaterais causados devido ao uso de medicamentos, como indisposição, mal-estar, fadiga, fraqueza, cansaço, dor de cabeça, náuseas, vômitos, dor nas articulações e anemia também contribuem para atrapalhar ou impossibilitar o namoro e a própria atividade sexual. Drogas como sulfassalazina e mesalazina, cujos efeitos colaterais estão ligados diretamente à reprodução, levam à diminuição do número de espermatozoides.

Entretanto, a impotência sexual não é um efeito colateral reportado com frequência ou ligado a alguma medicação usada para tratamento da DII, embora seja relatado por alguns pacientes. “Sempre que perceber algum sintoma adverso da medicação, o paciente deve conversar com a equipe médica para avaliar o risco-benefício de continuar com o medicamento ou se vale a pena trocar, pois muitos relatam que os sintomas são incapacitantes e acabam interferindo nos relacionamentos afetivos”, argumenta a gastroenterologista Ligia Yukie Sassaki.

Além disso, alguns tipos de cirurgia podem causar disfunção e impotência sexual nos homens – por afetarem os nervos ligados à ereção –, e aumentar o risco de infertilidade nas mulheres pelo possível acometimento dos órgãos responsáveis pela reprodução. Os procedimentos que oferecem maiores riscos para essas complicações são proctocolectomia total, proctocolectomia com bolsa ileal e todas as cirurgias que envolvem a região da pelve. No entanto, a cirurgia por videolaparoscopia diminui a chance dessas complicações pelo menor risco de lesão da inervação dos órgãos.

“Devemos conversar com nossos pacientes e tranquilizá-los sobre a doença e sobre o tratamento, enfatizando que, apesar de ser uma enfermidade crônica, o objetivo do tratamento é atingir a remissão dos sintomas e o controle da atividade inflamatória do intestino para garantir uma boa qualidade de vida.

Desta forma, fornecemos subsídios para que o paciente possa lidar melhor com sua doença e, consequentemente, diminua a interferência negativa da DII na sua vida afetiva”, orienta a médica Ligia Yukie Sassaki. Com isso, os pacientes terão uma vida normal e poderão fazer todas as atividades como qualquer pessoa, inclusive casar, construir uma família, ter filhos, estudar, trabalhar,  viajar e se divertir.

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John Doe

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