Os dicionários classificam o termo cibercondria (do inglês cyberchondria) como ‘ansiedade infundada em relação ao estado da saúde provocada pela visita a sites de saúde e médicos’.
Pesquisadores da Universidade de Baylor, nos Estados Unidos, foram os primeiros a delinear um retrato mais claro do comportamento decorrente da evolução dos meios digitais.
Publicado no periódico Cyberpsychology, Behavior and Social Networking, o trabalho explica como uma pessoa pode desenvolver cibercondria. “Se a internet for usada como instrumento da doença hipocondríaca já existente, vai apenas ampliar o campo imaginário de quem está superconcentrado em si mesmo. Ninguém se tornará hipocondríaco por causa da internet”, afirma o médico psicanalista Francisco Daudt.
No entanto, o psiquiatra Vladimir Bernik ressalta que o hábito excessivo de procurar informações sobre doenças na internet deixa de ser saudável quando passa a interferir negativamente na qualidade de vida. Além disso, indivíduos viciados na internet podem ter outros problemas relacionados diretamente ao uso excessivo do computador, como conjuntivite, alterações auditivas e ansiedade. “O uso da internet pode ser considerado patológico quando interfere na qualidade de vida e quando o indivíduo não consegue mais efetuar suas tarefas profissionais, escolares e familiares em função da internet”, adverte. O médico Paulo Roberto Vasconcellos Silva complementa que o fenômeno do cibercondríaco ocorre durante o ano inteiro, exceto no fim do ano. Por volta de meados de dezembro até meados de janeiro, as doenças e os tratamentos inovadores já não são tão interessantes. Com isso, as pessoas já não procuram mais por ‘consultas’ e o comportamento cibercondríaco desde que não seja uma doença psíquica acaba sendo deixado de lado.
COMUNIDADES AJUDAM
Nos últimos anos, também está crescendo um tipo de uso da internet que leva a resultados mais benéficos aos pacientes, que são as comunidades virtuais. Nestes sites, geralmente não há outros interesses e ocorre uma troca de experiências sobre os mesmos males, o que torna a informação mais segura e confiável. O professor Paulo Roberto Vasconcellos Silva enfatiza que tem havido uma adesão em massa às comunidades virtuais, que ganham cada vez mais confiabilidade das pessoas que passam pela mesma doença.
Nessas comunidades, o paciente recebe suporte relacionado, principalmente, ao detalhe do autocuidado que, muitas vezes, o profissional da saúde não tem, porque não viveu a doença. Esses detalhes são minúcias que, em geral, são postados nas comunidades virtuais por alguém que já passou por aquela situação e, por esse motivo, acaba esclarecendo mais. O médico lembra que a internet oferece dois caminhos quando o assunto é um problema de saúde: o caminho solitário de acessar o Google, por não ter ou querer recorrer a uma rede solidária de amigos e companheiros no mundo real, ou a busca por opiniões da comunidade à qual pertencem outras pessoas com os mesmos problemas.