É consenso que os cuidadores familiares recebem escassa orientação por parte dos profissionais da saúde a respeito dos cuidados com a saúde física e mental daqueles que estão sob sua responsabilidade – além deles mesmo – e é essencial que os gestores de saúde, médicos e demais profissionais da área criem mecanismos para capacitar tanto cuidadores familiares quanto os profissionais. “Também é fundamental regulamentar e organizar a profissão do cuidador, que tem crescido muito no País.
Isso ajudaria, por exemplo, na valorização profissional e a delimitar quais as funções que deve assumir, além de garantir os seus direitos”, acredita Marlene Oliveira. A capacitação é necessária para que tenham informações sobre como agir em uma situação de emergência, saibam o que deve ser evitado dependendo do perfil da pessoa que está recebendo o cuidado e o que não é recomendável fazer quando, por exemplo, cuidam de um paciente com uma doença incapacitante, em tratamento oncológico ou que tenha sofrido um evento específico como infarto ou acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo.
A pesquisa do Instituto Lado a Lado pela Vida apontou que o médico que cuida do paciente ou do idoso é a principal fonte de informação para os cuidadores. No entanto, boa parte dos participantes afirmou só ter contato com o médico nas consultas presenciais, o que mostra que há oportunidade de expandir os canais de orientação.
“O cuidador é fundamental para o acompanhamento da saúde do paciente/idoso, para a tomada de decisão e para garantir a adesão ao tratamento”, acentua a dirigente. Entre os cuidadores familiares, 96% participam das decisões relacionadas ao bem-estar do paciente e 88% estão ao seu lado nas consultas médicas – entre os cuidadores profissionais, 82% também estão presentes.
Cerca de 70% dos que participaram do levantamento informaram que não conhecem, por exemplo, associações voltadas a pacientes e cuidadores capazes de oferecer informações e diretrizes atualizadas. Mas o desejo de ter mais conhecimento foi indicado por todos, inclusive a vontade de estabelecer uma via de comunicação com as empresas responsáveis pelos tratamentos. O estudo também mostrou que 95% seguem à risca a maioria das recomendações médicas e 74% incentivam o paciente a se manter ativo.
A geriatra Maisa Kairalla lamenta que ainda falte orientação, tanto por parte dos médicos, individualmente, quanto da equipe de saúde, e reforça que é muito importante que os órgãos governamentais também deem um respaldo e um melhor acesso à orientação e ao tratamento para os cuidadores, seja na esfera municipal, estadual ou até mesmo federal, bem como as sociedades médicas.
Assim, enfermeiros, gerontólogos, médicos e toda a equipe multiprofissional deve ter no rol do seu aporte terapêutico o cuidador do idoso. O próprio cuidador também deve sempre procurar ajuda para sentir-se mais apoiado e seguro na atividade que se prestou a desempenhar. “Nascemos dependentes e morremos dependentes, e precisamos deixar isso muito claro.
Na Unifesp, por exemplo, há um serviço voltado para o estresse do cuidador, na disciplina de Geriatria e Gerontologia, que é extremamente importante para que possamos evitar a piora, não só do cuidador, mas também do idoso que está sendo assistido. Precisamos de uma rede maior de suporte. Acho que em todas as esferas da saúde, os multiprofissionais que atendem idosos devem ter esse olhar e podem ajudar os cuidadores”, orienta.