“A maior dificuldade para manter qualidade na assistência de enfermagem para pacientes com doença inflamatória intestinal no Brasil é o saber”, enfatiza Manuela Mendes Melo. Ainda hoje, profissionais de enfermagem de forma geral e outros da área da saúde – inclusive algumas especialidades médicas –, não conhecem as doenças inflamatórias intestinais ou não sabem o suficiente sobre DII, embora a maioria acredite que o conhecimento científico e o tratamento humanizado sejam fundamentais no tratamento de qualquer doença, para diminuir o impacto psicossocial que causam nos pacientes e em suas famílias.
Parte do problema ocorre porque as DII não são destacadas durante a maioria dos cursos da saúde, em parte porque, até pouco tempo, ainda eram consideradas doenças raras. “Observamos no dia a dia que as DII são uma incógnita para muitos profissionais da saúde, especialmente no interior do Brasil. É do nosso interesse como associação tirar essas doenças do anonimato, em busca de melhores condições de tratamento”, argumenta Manuela Mendes Melo. Para que essa inserção seja mais relevante, é fundamental que o assunto seja abordado nos cursos da saúde nas faculdades e universidades.
A opinião é compartilhada pela enfermeira Alessandra Castro, ao afirmar que é de suma importância que haja uma disseminação maior de informações acerca das DII entre esses profissionais, pois raramente uma equipe de enfermagem realmente sabe o que é doença de Crohn ou retocolite ulcerativa.
Se mais profissionais de enfermagem conhecessem as DII, poderiam complementar com orientações preciosas sobre o tratamento para o paciente hospitalizado. “Informações básicas já ajudariam bastante. O diálogo favorece o paciente, deixando-o com liberdade para fazer perguntas que não tem coragem de fazer ao médico. Por isso, é fundamental disseminar esse conhecimento a esses profissionais”, reforça Alessandra Costa, ao contar que, de todas às vezes em que foi internada por causa de sua DII, raramente encontrou um profissional de enfermagem que soubesse o que era doença de Crohn.
Apesar de todas as dificuldades e do desconhecimento de muitos, a participação dos enfermeiros nos grupos multiprofissionais que atuam com DII é considerada fundamental. O profissional de enfermagem pode esclarecer as dúvidas dos pacientes após as consultas, incentivar o controle da ingesta de alguns alimentos, orientar sobre a importância do tratamento correto, incluindo a necessidade de tratamento medicamentoso para controle da doença e das terapias para melhor controle emocional, uma vez que o descontrole pode levar a novas crises.
“O trabalho multidisciplinar é um olhar diferente, especializado de cada área profissional com o seu saber, no intuito de um bem comum que, neste caso, é o paciente. Então, acredito que enfermeiros e técnicos de enfermagem têm muito a acrescentar no cuidado multiprofissional, pois os mesmos é que lidam com o paciente no dia a dia, especialmente quando está internado”, acentua Manuela Mendes Melo.
A enfermeira, que tem doença de Crohn desde os 17 anos de idade, conta que, em uma das internações, os profissionais que compunham a equipe de enfermagem foram os grandes incentivadores, ouvintes e melhores amigos durante os 40 dias em que passou no hospital.