Fundamental para manter a remissão da DII, os medicamentos são, muitas vezes, ignorados
Após o diagnóstico da doença inflamatória intestinal, o passo mais importante é receber um tratamento adequado para garantir que a crise diminua e a doença entre em remissão. No entanto, é comum que os pacientes não mantenham a adesão ao tratamento por longos períodos, o que coloca em risco a qualidade de vida.
Este comportamento pode ser observado em pessoas de todas as idades e é perigoso, pois a doença não controlada ou não medicada pode evoluir rapidamente e piorar o quadro. Entre os motivos da não adesão estão os horários das medicações, o medo dos efeitos adversos, a necessidade de tomar remédio fora do período de crises, o alto custo dos medicamentos e a relação de confiança entre médico e paciente.
A não adesão ao tratamento de qualquer doença crônica chega a alcançar taxas de até 50% nos países desenvolvidos e, no Brasil, pode atingir 87%, de acordo com um estudo piloto realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Estas altas taxas incluem a adesão de uma forma mais ampla, não apenas pelo uso regular das medicações, mas também o tratamento não farmacológico, quando o paciente não segue as recomendações prescritas pelo médico, não realiza os exames solicitados ou falta às consultas de rotina e acompanhamento”, afirma a gastroenterologista e endoscopista Marcia Henriques de Magalhães Costa, do Ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais do Hospital Universitário Antônio Pedro e professora assistente de Gastroenterologia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Segundo a gastroenterologista e endoscopista Cristina Flores, especialista em doenças inflamatórias intestinais do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, dentre os motivos mais comuns alegados pelos pacientes para não aderir ao tratamento está a crença de que, em algum momento, estarão curados e não necessitarão mais das medicações. “Muitas vezes isso acontece exatamente com aqueles pacientes que estão em remissão por períodos mais longos”, alega.
Os efeitos colaterais dos medicamentos são bastante utilizados pelos pacientes como fatores para não seguir com o tratamento, e muitos negligenciam o fato de terem uma doença crônica. Mas, a não adesão pode ocasionar recidivas com possibilidades catastróficas, que não se limitam ao aumento de atividade da doença.
“Esta conduta pode ocasionar, inclusive, em necessidade cirúrgica, pois a enfermidade não controlada ou medicada pode evoluir rapidamente em diferentes apresentações da doença”, alerta o médico gastroenterologista Carlos Frederico Pereira Porto Alegre Rosa, da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.
Os médicos lembram que o alto custo das medicações, desproporcional à renda familiar de muitos pacientes, bem como o difícil acesso às mesmas pela maior parte da população, também são fatores que dificultam o tratamento.
Apesar de o programa de distribuição gratuita de remédios mantido pelo governo federal tentar minimizar este problema, o fornecimento irregular e intermitente, e a burocracia envolvendo a liberação, em especial no caso dos biológicos para colite ulcerativa, trazem ainda mais transtorno aos pacientes e seus familiares.
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PAPEL DOS MÉDICOS
A não aderência ao tratamento não tem relação com classe social ou renda familiar. As mulheres costumam ser mais fiéis às prescrições, enquanto homens, adolescentes e jovens são os que menos aderem, por acreditarem que não haverá consequências no futuro. O baixo grau de escolaridade também pode atrapalhar a compreensão sobre como a doença funciona e, consequentemente, diminuir a adesão. No caso dos idosos, pode haver confusão na dosagem e na administração.
Os médicos podem colaborar para a mudança deste quadro, mantendo uma relação clara com os pacientes para estabelecer a confiança. O gastroenterologista Carlos Frederico Pereira Porto Alegre Rosa acentua que é fundamental explicar sobre a necessidade do tratamento, dizer os motivos de tomar os remédios e falar das consequências caso não façam o tratamento corretamente. “Se o comportamento médico for de desprezo, atitudes negligentes e falta de preocupação, o paciente vai deixar de tomar os medicamentos. Várias perguntas têm de ser feitas e a medicação conferida, sempre. A aderência é um dos pilares para dar tudo certo, na maioria das vezes”, ensina.
A gastroenterologista Cristina Flores também acha fundamental a relação entre médico e paciente para a adesão ao tratamento. “Esta confiança se assemelha, sob diversos aspectos, com a relação de amizade: há momentos em que temos de prover suporte emocional e outros em que temos de ‘chamar a atenção para a realidade’.
Informar e motivar o paciente demanda tempo durante as consultas”, pontua. Quando os profissionais perceberem que o paciente não está aderindo ao tratamento devem, primeiramente, ter uma conversa franca, tentando entender os principais motivos da não adesão.
A médica Marcia Henriques de Magalhães Costa reforça que ouvir o paciente é fundamental. “A partir desta conversa será possível esclarecer as dúvidas ou tentar adequar, dentro das possibilidades, a posologia e a forma de administração das medicações”, diz. Outra forma de ajuda são os grupos de apoio psicológico, com abordagens individuais ou coletivas.
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MITOS E VERDADES
Todas as medicações usadas para o tratamento têm benefícios e riscos potenciais.
VERDADE.
Por isso, a supervisão médica é fundamental. Vale lembrar que os medicamentos na DII são usados para o tratamento e não para a cura.
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O uso crônico das medicações gera o risco de diminuição da fertilidade.
MITO
A maior parte das medicações não aumenta de forma considerável esta condição. Contudo, o médico pode orientar sobre como minimizar os riscos.
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Alguns medicamentos não podem ser tomados cronicamente, como os corticoides.
VERDADE.
Alguns medicamentos, às vezes, precisam ser retirados devido à localização da doença e outros precisam ter controle para o não desenvolvimento de efeitos colaterais.
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Se eu tomar os remédios não posso engravidar e amamentar.
MITO.
A maioria das medicações pode ser utilizada durante a gestação e o aleitamento. O acompanhamento médico é essencial, pois o profissional vai orientar sobre como planejar o melhor momento para a gestação, com menor risco possível para mãe e bebê.
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Os remédios para DII interagem com as medicações prescritas para outras condições crônicas concomitantes, como hipertensão arterial sistêmica, diabetes ou dislipidemia.
MITO.
As medicações prescritas para doença inflamatória intestinal geralmente não apresentam interação com estas medicações, mas, em caso de dúvidas, converse com seu médico.