Diferentes estudos indicam que a doença inflamatória intestinal traz um importante impacto na qualidade de vida dos pacientes, especialmente dos idosos. Na dissertação de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto da Universidade Federal de Minas Gerais, a médica gastroenterologista Jeniffer Araújo Ribeiro fez uma análise do perfil clínico, epidemiológico e da qualidade de vida da doença inflamatória intestinal no paciente idoso atendido no Ambulatório de Intestino do Instituto Alfa de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da UFMG (HC-UFMG).
O estudo teve como objetivo conhecer o perfil de apresentação e evolução, bem como a resposta ao tratamento e o impacto das DII na qualidade de vida de 173 pacientes idosos, sendo 90 com doença de Crohn e 83 com retocolite ulcerativa. Destes, em 130 pacientes a doença foi diagnosticada antes dos 60 anos, enquanto 43 tiveram o diagnóstico com 60 anos ou mais.
O estudo trabalhou com avaliação retrospectiva de prontuários dos pacientes com 60 anos ou mais e DII, registrados no Ambulatório e, na segunda etapa, foram aplicados dois questionários para avaliação da qualidade de vida. “Quanto aos aspectos epidemiológicos, clínicos, perfil evolutivo e abordagem terapêutica, os dados mostraram-se semelhantes aos relatos dos estudos internacionais.
Um aspecto interessante foi que a maioria dos idosos considerou que tem uma boa qualidade de vida, embora a atividade da doença tenha sido o fator que mais impactou nesta questão”, afirma a professora Maria de Lourdes de Abreu Ferrari, que foi a orientadora do estudo.
Pelos resultados apurados, os sintomas que mais impactaram na qualidade de vida dos participantes foram fadiga, astenia e insônia. A qualidade de vida mostrou-se pior entre as mulheres e para os pacientes que tiveram o diagnóstico com mais de 60 anos.
Para a docente, um dos maiores desafios a ser enfrentado pelos grupos que se dedicam à assistência aos pacientes com DII é exatamente a problemática da doença inflamatória intestinal cada vez mais relevante no paciente idoso.
Para garantir a melhor assistência e qualidade de vida a esses indivíduos, vários estudos e adaptações terapêuticas serão necessários. “Acredito que restaurar a qualidade de vida do idoso é mantê-lo em remissão clínica, preferencialmente associada à remissão endoscópica sem, entretanto, aumentar a frequência de complicações representadas principalmente por infecções e neoplasias em decorrência da imunossupressão”, afirma.
O cirurgião Mathew Kazmirik concorda que a DII é um grande rebaixador do nível de qualidade de vida de todos os pacientes que estão com a doença ativa. Por isso, acredita que os médicos devem ser mais agressivos no sentido de tentar melhorar os sintomas do paciente e cicatrizar a mucosa intestinal, o que permitirá uma qualidade de vida melhor.
“Se é um idoso hígido, sem doenças, e fica ruim por causa da DII, é perfeitamente possível restaurar a qualidade de vida normal depois de um período. Talvez seja necessário um pouco de restrição alimentar, mas, sem dúvida, esse idoso terá uma qualidade de vida muito próxima do normal”, assegura.
Para que isso aconteça, no entanto, é muito importante obter um diagnóstico rápido porque, se demorar a controlar os sintomas, esse paciente terá anemia, perderá peso e massa muscular e, consequentemente, vai perder qualidade de vida e será mais difícil restabelecê-la.