Pacientes imunossuprimidos podem tomar vacinas

Pacientes imunossuprimidos podem tomar vacinas

Imunização deve ser aplicada com critérios se for baseada em bactéria ou vírus atenuado

Quando há surtos de doenças que podem ser evitadas por meio da vacinação, como aconteceu recentemente com o vírus H1N1, as pessoas rapidamente comparecem aos postos de saúde ou às clínicas particulares para serem imunizadas. No entanto, indivíduos imunossuprimidos não podem tomar qualquer tipo de vacina, pois, dependendo da composição, podem correr o risco de desenvolver quadros graves das doenças que pretendiam evitar. Para que não passem por riscos desnecessários, é fundamental sempre consultar o médico de confiança antes de tomar qualquer iniciativa de imunização.

Segundo o médico alergista e imunologista Mario Geller, diretor da Divisão de Medicina da Academia de Medicina do Rio de Janeiro, são chamados de imunossuprimidos indivíduos que nasceram com uma deficiência imunológica (imunodeficiências primárias/causas genéticas ou adquiridas, que podem ser provocadas por vírus como o HIV, por exemplo), ou ficaram com o sistema imune abalado após contrair alguma doença sistêmica. Há, ainda, aqueles que ficam imunossuprimidos durante ou depois de um tratamento médico.

No caso dos pacientes com doença inflamatória intestinal são classificados como imunossuprimidos aqueles que fazem uso de doses médias ou elevadas de corticoides, de imunomodeladores (6-mercaptopurina, azatioprina ou metotrexato) e/ou de drogas biológicas com agentes anti-TNF-alfa (Infliximabe, Adalimumabe). “Como muitos pacientes com doença inflamatória intestinal fazem uso de corticoide ou imunossupressores, podem ficar com uma imunodeficiência adquirida, que é reversível se a medicação for interrompida”, explica.

De acordo com a médica gastroenterologista Eloá Marussi Morsoletto, sócia-fundadora do Grupo de Estudos de Doenças Inflamatórias Intestinais do Brasil (GEDIIB) e representante da ABCD em Curitiba, o paciente com doença inflamatória intestinal apresenta uma resposta imunológica comprometida, por isso, é preciso ficar atento em relação ao tipo de vacina que poderá ou não receber. “Em geral, estes pacientes tendem a estar subimunizados”, relata. Alguns dos fatores que contribuem para isso são a falta de consciência sobre a importância da vacinação, o não conhecimento do risco de infecções, a percepção errada sobre a segurança e eficácia das vacinas, as informações diferentes do gastroenterologista – em contraste com o médico de cuidados primários – e a indisponibilidade de orientações de vacinação com foco nesta população.

A médica informa que é necessário definir estratégias de vacinação para os pacientes portadores de DIIs. Em geral, aqueles que não estão em uso de medicações imunossupressoras precisam seguir as recomendações de vacinação padrão, instituída pelo Ministério da Saúde. Para isso, devem dirigir-se ao posto de saúde mais próximo da residência levando carta do médico – indicando ser portador de doença crônica – e atualizar sua carteirinha vacinal. “A bactéria ou o vírus vivo atenuado das vacinas, ao entrarem no organismo, multiplicam-se sem causar doenças e estimulam o sistema imunológico, com produção de anticorpos contra este agente. No entanto, nos pacientes em imunossupressão, a doença pode ser desencadeada, inclusive com uma apresentação grave da mesma”, enfatiza.

A administração das vacinas de microrganismos vivos (ativos) atenuados requer, no mínimo, três meses sem terapia imunossupressora, exceto corticosteroides, que requerem um intervalo de apenas um mês. Este grupo de vacinas inclui varicela, tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), febre amarela, BCG, rotavírus, poliomielite oral e Herpes zoster. Já as vacinas produzidas com vírus ou bactérias inativados, toxoides ou polissacarídeos podem ser administradas com segurança, mesmo em uso de medicações imunossupressoras, embora a resposta seja menor se comparada com pessoas saudáveis. Este grupo de vacinas inclui tríplice acelular – difteria, tétano e coqueluche (DTP) –, Papilomavírus humano (HPV), pneumocócica, gripe (Influenza e H1N1), hepatite A e B e Meningocócica.


Muita atenção por parte dos médicos

Quando o diagnóstico de doença inflamatória intestinal é definido, é importante que o especialista cheque a caderneta de vacinação do paciente para saber se está imunizado antes de iniciar a imunossupressão, para não colocá-lo em risco. Se houver surto de uma enfermidade e a vacina tiver o microrganismo vivo atenuado, cabe ao médico assistente avaliar os riscos e benefícios de interromper o tratamento para que o paciente seja imunizado. Sempre deve ser levado em consideração que o tempo entre a interrupção, a vacinação e o retorno ao tratamento é grande, com alto risco de reativação da doença inflamatória intestinal.

A gastroenterologista Eloá Marussi Morsoletto acentua que, caso o diagnóstico da DII seja na fase ativa e grave da doença, deve ser iniciado imediatamente o tratamento medicamentoso e, em um período de remissão – com janela sem medicação imunossupressora – poderão ser aplicadas as vacinas pendentes. “O paciente imunocomprometido deve tomar cuidado com pessoas do seu convívio diário que tenham tomado vacina de microrganismo vivo atenuado, pois podem transmitir a doença. Bebês que tomam a vacina contra rotavírus, por exemplo, eliminam o vírus pelas fezes, e as mães imunossuprimidas devem evitar o contato direto com suas secreções por cerca de duas semanas”, alerta. O protocolo do Ministério da Saúde estabelece que o paciente que receberá medicamentos biológicos faça o teste tuberculínico (PPD) e os raios-X de tórax para excluir tuberculose latente, pois, com o início da imunossupressão, poderá ativá-la e desenvolver a doença. Caso o paciente não tenha caderneta de vacinação e não lembre se foi vacinado, é possível fazer dosagem de títulos de anticorpos de todas essas doenças para checagem de imunidade ou não.


Publicado na Edição 61 da Revista ABCD em FOCO

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