Médica perita do INSS destaca importância da recolocação do paciente no ambiente profissional
Entre 2010 e 2014, de todos os trabalhadores afastados por motivo de doença no Brasil, aproximadamente 15 mil tinham doença inflamatória intestinal, o que significa 0,01% de todos os afastamentos. Embora o número possa parecer baixo, o gasto do INSS com esses pacientes afastados por DII era de 1% do montante geral, o que correspondia a US$ 98 milhões – ou R$ 323 milhões. A média de tempo de afastamento também chama a atenção: 314 dias ao ano/paciente. Os dados fazem parte do estudo ‘O impacto socioeconômico da incapacidade no trabalho por doença inflamatória intestinal no Brasil’, de autoria da médica gastroenterologista especializada em doença inflamatória intestinal, Renata Froes, que também é médica do trabalho e perita do INSS.
Segundo a autora, que é membro do American College of Gastroenterology, do Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal do Brasil (GEDIIB) e da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), o estudo teve como objetivo avaliar a incapacidade laboral devido à DII na população brasileira e os fatores demográficos potencialmente associados à ausência no trabalho. Entre os fatores que interferem para esses índices está a dificuldade de acesso dos pacientes a tratamentos e a exames de colonoscopia, sangue e enterorressonância – fundamentais para um diagnóstico correto –, especialmente no serviço público de saúde.
O estudo constatou, ainda, que os afastamentos são mais prevalentes em pacientes com retocolite ulcerativa em relação à doença de Crohn, embora o Crohn afaste mais pacientes jovens e acarrete aposentadoria mais precoce. “Essa diferença ocorre porque a retocolite é mais prevalente, enquanto o Crohn complica potencialmente mais, embora as duas enfermidades sejam incapacitantes. O interessante é que, ao analisar os gráficos, percebemos que o tempo de afastamento foi caindo ao longo dos anos, coincidindo com o maior acesso dos pacientes ao uso de medicamentos biológicos”, acrescenta.
A médica Renata Froes lamenta que os medicamentos biológicos sejam oferecidos gratuitamente pelo SUS apenas para pacientes com doença de Crohn, uma vez que podem ser benéficos para ambas as enfermidades nas fases moderada a grave, que é exatamente o perfil do paciente afastado pelo INSS. “A doença vai custar de qualquer forma para o governo. No entanto, com pacientes devidamente diagnosticados e medicados, o País não perderá mão de obra produtiva e, consequentemente, terá mais contribuintes”, acentua.
Prejuízos
O afastamento do trabalho gera prejuízos profissionais e sociais e, quanto mais tempo longe do trabalho, maior a chance de os pacientes perderem os vínculos e serem substituídos por outros profissionais. “Pacientes afastados por muito tempo se sentem desvalorizados e, com isso, muitas vezes desenvolvem sintomas depressivos, porque é o trabalho que traz a sensação de serem produtivos”, argumenta. Segundo a médica, os programas de reabilitação profissional podem impactar positivamente a seguridade social e a qualidade de vida desses pacientes. A intenção da autora é que os resultados do estudo cheguem às autoridades brasileiras, visando conscientizar os legisladores sobre a necessidade de propiciar acesso a diagnóstico e medicamentos para diminuir o impacto negativo das DII na população. O estudo foi publicado no The European Journal of Health Economics. A ABCD e o GEDIIB apoiam trabalhos do gênero para que, em conjunto, possam ser traçadas metas e planejamentos para pacientes com DII.