Em geral, as DII têm uma interação genética associada a uma exposição ambiental, que seria um gatilho e contribuiria para o surgimento do processo inflamatório intestinal. A saúde da microbiota intestinal, que está associada à resistência imunológica, também pode gerar o gatilho e o processo inflamatório. Entre os gatilhos ambientais que podem contribuir para o surgimento ou agravamento da DII também está o tabagismo, normalmente associado à piora da doença de Crohn.
Além disso, antibióticos, anti-inflamatórios e anticoncepcionais, às vezes, estão associados ao desenvolvimento ou à piora dessas doenças. “Claro que não é um fator isolado, que não são todos que tomam esses medicamentos que terão uma DII, mas existe uma associação de fatores e o fator ambiental é o gatilho para o paciente que já tem predisposição genética a desenvolver o problema”, reforça o professor Caio Freire.
Existe também a teoria da higiene sugerindo que, nos países mais desenvolvidos – onde os ambientes são mais estéreis e com menos germes – curiosamente, os habitantes têm mais doenças autoimunes. Este seria o motivo pelo qual os países da Europa e os Estados Unidos acabam tendo mais prevalência, porque lá o cuidado sanitário é realmente melhor do que no Brasil e em outros países em desenvolvimento.
“A industrialização também parece estar associada ao surgimento de casos e, aparentemente, amamentação e dietas com proteínas e ricas em fibras são fatores protetores”, acrescenta o médico.
Indivíduos com intestino normal, sistema imunológico equilibrado e ausência de fatores ambientais provavelmente não terão inflamação no intestino. No entanto, um desequilíbrio em alguns desses fatores – ambiental, infecção, medicação – pode desencadear um processo inflamatório e essa inflamação, em muitos casos, vai persistir por causa da desregulação imunológica, vai se perpetuar e se estender no trato digestivo, levando a uma inflamação crônica bem característica da doença inflamatória intestinal.
O professor Caio Freire ressalta, ainda, que os sintomas da doença de Crohn e da retocolite ulcerativa podem ser parecidos, embora tenham algumas diferenciações, e incluem anemia, perda de peso, febre e dor abdominal.
A diarreia da retocolite costuma ocorrer várias vezes ao dia em menor quantidade, enquanto o paciente com doença de Crohn apresenta diarreia em maior volume e menos vezes ao longo do dia. “A dificuldade no diagnóstico da DII está relacionada ao fato de várias doenças terem sintomas parecidos, a exemplo de câncer de intestino, linfoma, apendicite, síndrome do intestino irritável, diverticulite e doença celíaca.
Também é importante lembrar que as DII podem acometer crianças e adolescentes e ter sintomas iniciais atípicos, inclusive manifestações fora do intestino, como dor nas articulações, manifestação de olho vermelho parecendo uma conjuntivite e lesões na pele”, orienta. Quando acometem crianças e adolescentes, as DII podem gerar déficit de crescimento e atraso na puberdade.
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