Como realizar uma adequada avaliação nutricional?

Como realizar uma adequada avaliação nutricional?

Na aula, a nutricionista Izabel Lamounier também explica quem pode e quando usar suplementos

Três grandes perguntas permeiam a mente de pacientes com doença inflamatória intestinal que vão a uma consulta com nutricionista: por que tenho de fazer essa avaliação, o que o nutricionista avalia e o que mais tem por trás de todas as informações que esse profissional vai buscar.

A nutricionista da ABCD, Izabel Lamounier, especialista em Nutrição Clínica, Nutrição Parenteral e Enteral e em Nutrição e Metabolismo Esportivo, explica que a avaliação visa descobrir principalmente se o paciente tem desnutrição, fator que preocupa muito no caso de DII, e também se o indivíduo ganhou ou perdeu muito peso, uma vez que ambas as situações podem sinalizar um estado inflamatório.

“A inflamação está presente em várias doenças crônicas e é um dos fatores que leva a perder apetite e gordura corporal, dando início a uma cascata que faz com que o paciente também perca massa muscular e passe a sentir fraqueza e fadiga, além de perder massa óssea”, detalha.

A nutricionista explica que, em uma situação normal, o alimento ingerido chega ao intestino e é absorvido, o que vai provocar respostas nos músculos, nos ossos, no tecido adiposo e em todo o corpo. No entanto, nas pessoas com DII essas reações mudam completamente, porque é o intestino que está doente. E, se o paciente não está se alimentando adequadamente, vai perdendo massa óssea e gordura, inclusive por causa da medicação.

Os prejuízos da má digestão e da má absorção de nutrientes são muitos e podem levar ao emagrecimento, à caquexia (perda grave de massa muscular) e à desnutrição. “O nosso intestino é lindo, é um órgão maravilhoso. Mas, quando está inflamado, vai mudando e fica careca, sem as vilosidades fundamentais para o processo de absorção de nutrientes.

Com isso, o indivíduo também tem diarreia”, detalha. Essas alterações são muito comuns na doença de Crohn, atingindo até 75% dos pacientes, e na retocolite ulcerativa, em aproximadamente 60% dos portadores da doença. Um trabalho recente mostrou que um adulto jovem (38 anos), se ficar em repouso por 30 dias, chega a perder 14g de músculo por dia; aos 50 anos, perderá 80g/dia; e o idoso perderá cerca de 83g/dia.

Em UTI, perde-se 30% de massa muscular em 10 dias e, junto com isso, perde-se vitamina B12, vitamina D, vitamina K, ácido fólico, ferro, cálcio, magnésio, zinco, selênio e potássio, que são nutrientes fundamentais à saúde.

“Isso significa que o paciente vai enfraquecendo, porque está perdendo massa muscular devido ao processo inflamatório. E o nutricionista precisa avaliar os nutrientes, a composição corporal, a inflamação e a capacidade funcional desse paciente para conseguir melhorar a terapia nutricional.

Não existe receita de bolo, porque cada indivíduo é único. Mas todos precisam ser tratados para que possamos minimizar os efeitos dessas perdas no futuro”, acentua a nutricionista. Por isso, as perguntas na consulta devem incluir o que o paciente come para que o profissional de nutrição possa entender a história dietética de cada indivíduo, quanto perde e gasta de nutrientes e de calorias por dia, além de colocar o paciente na balança e na bioimpedância, e medir a altura e a área muscular.


Outras funções

O nutricionista também deve fazer algumas medições de função muscular, força de aperto da mão, função cognitiva e função imune, e precisa checar os parâmetros de proteínas totais, importante para diagnosticar desnutrição; albumina, que está relacionada com a má absorção e com a desnutrição; e proteína C-reativa (PCR), que indica atividade inflamatória. “Toda essa complexidade de informações vai nos ajudar a chegar a um diagnóstico correto.

Para quem tem a doença na região do íleo é muito importante medir a vitamina B12 – que só é absorvida nessa região – e, se houve a retirada do íleo, é preciso fazer a reposição de B12 de outra forma, porque a falta dessa vitamina provoca cansaço e fadiga”, ensina. O ácido fólico (ou vitamina B9) também deve ser sempre suplementado, especialmente quando o paciente tem diarreia e retira da dieta alimentos que contêm esse nutriente pertencente ao complexo B e importante para a formação de proteínas estruturais e hemoglobina.

Uma pesquisa realizada pela ABCD com 1.261 participantes indicou que 38% deles tinham perdido peso em um ano, enquanto 39% ganharam peso. “Esses números tão próximos podem indicar que o corpo inflamado ou alguma medicação está potencializando ambas as situações. E temos de estar atentos porque a disbiose intestinal favorece a síndrome metabólica, que pode levar à doença hepática gordurosa não alcoólica, muito presente em pacientes com DII em remissão”, alerta. Estatísticas mostram que até 55% das pessoas com retocolite ulcerativa e 40% com doença de Crohn podem ter essa enfermidade.


Suplementos: quem pode usar?

A nutricionista Izabel Lamounier afirma que os suplementos são importantíssimos porque, quando o paciente perde peso devido à DII, demora a recuperar. Na pesquisa da ABCD, 47,1% dos participantes usavam algum suplemento, 48,1% não usavam e um grupo menor sequer conhecia essa opção.

“O suplemento deve ser indicado por um nutricionista para quem perdeu muito peso, precisa se recuperar de uma cirurgia, está em remissão ou se o estado nutricional ainda não está totalmente recuperado por causa da doença inflamatória intestinal. A orientação é sempre manter o suplemento para uma completa recuperação nutricional”, argumenta.

Outra questão importante é entender a importância da pirâmide alimentar – que está invertida na vida da maioria das pessoas, pois estão comendo mais gordura em detrimento de vegetais, verduras e frutas. “A dieta mediterrânea, em cuja base estão atividade física, reunião com amigos, beber água, sociabilizar e ingerir alimentos saudáveis, é a mais indicada para pessoas com DII. Precisamos lembrar que, em nutrição, nada é proibido, mas é preciso evitar alimentos que estejam no topo dessa pirâmide. Vamos colorir o nosso prato, porque quanto mais colorido, mais terá vitaminas, minerais e, com isso, todos terão mais saúde”, orienta.


Quem foi aprovou!

“Encontrei no FOPADII um grande instrumento que pode ajudar o paciente para melhorar a sua estrada de vida com uma doença inflamatória intestinal. Uma estrada pode ser muito sinuosa ou muito tranquila. Acho que esse é o papel principal do FOPADII, para que esse paciente entenda a doença como um todo e saiba que pode conquistar mais direitos, trazendo o SUS como a base, porque a realidade do paciente com doença inflamatória intestinal, em geral, é o SUS.

O paciente só vai conseguir lutar por alguma coisa quando conhecer e, quando se conhece, é muito mais fácil vencer o inimigo. Trabalho em um ambulatório da Universidade Paulista, em Santos, que atende pacientes com DII, e temos uma demanda grande de crianças e adolescentes também, além de idosos. Estar aqui foi enriquecedor. Eu trouxe duas alunas de Nutrição e agradeço por abrirem esse espaço. Acho importante essa participação, porque o olhar do estudante também precisa mudar, e esse é o papel social da universidade.”

Jenifer Bom Santos – SP.

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