Conheça a importância da microbiota

Conheça a importância da microbiota

Cada vez mais estudos comprovam o importante papel das bactérias intestinais para prevenir doenças e manter o equilíbrio do organismo

Conhecida há séculos pela ciência, a microbiota intestinal tem recebido cada vez mais atenção de pesquisadores devido ao recente desenvolvimento de metodologias de análise e sequenciamento genético que permitem medir a quantidade, qualidade e função desse ambiente ecológico formado por 100 trilhões de microrganismos, principalmente bactérias, de mais de 3 mil espécies.

Não é à toa que o intestino é chamado de segundo cérebro: o órgão possui um sistema nervoso próprio (sistema nervoso entérico) com 100 milhões de neurônios conectados através de sinapses que produzem vários neurotransmissores que regulam as funções intestinais de absorção, secreção, excreção e sensibilidade, principalmente à dor.

Além disso, 95% de toda a serotonina do organismo é produzida na região intestinal, o que explica a influência do órgão no comportamento, no humor e na saciedade, e aproximadamente 80% das células do sistema imune estão concentradas no intestino.

Os avanços no estudo da composição da microbiota intestinal nos últimos anos permitiram associar diferentes assinaturas microbiológicas a muitos estados de saúde e de doença, com destaque para diversas enfermidades sistêmicas, entre as quais síndrome metabólica, obesidade, doenças autoimunes e até mesmo transtornos mentais, como ansiedade, depressão e autismo.

Embora ainda não seja possível afirmar que há uma relação de causa e efeito, já se sabe que quase todas as doenças, principalmente as que afetam a imunidade, como câncer, doenças autoimunes e enfermidades crônicas, têm alterações da microbiota. O próximo passo será estabelecer as relações de causalidade entre as espécies microbianas e as doenças e, principalmente, entender como se dá essa relação: se por efeito molecular (metagenômico) ou por influência na expressão de genes (epigenético).

“Na verdade, não sabemos se a microbiota alterada causa a doença ou a doença causa a alteração da microbiota, e isso é um ponto fundamental. Uma vez que uma enfermidade se estabelece, principalmente uma doença inflamatória, altera uma série de fatores, inclusive a microbiota, o que justifica o interesse na investigação desse microscópico ecossistema”, afirma o professor doutor Claudio Fiocchi, da Cleveland Clinic Foundation – Lerner Research Institute, nos Estados Unidos.

O campo de estudos com a maior quantidade de evidências da influência da microbiota é o da imunidade. Várias pesquisas, que começaram muitos anos atrás com estudos em modelos experimentais, mostram claramente que o desenvolvimento imunológico de um animal cuja dieta é muito limitada sofre muitíssimo, o sistema imunológico não se desenvolve adequadamente, e o animal fica com imunodeficiência. Assim que se restabelece uma dieta normal, o sistema imunológico se desenvolve.

O professor lembra que o mesmo ocorre com as crianças. Os bebês nascem com pouquíssima imunidade e, a partir do parto – o natural é o mais fisiológico devido à carga microbiana que a criança recebe da mãe ao passar pelo canal vaginal – passam a receber uma importante carga microbiana, complementada posteriormente pelo leite da mãe (incluindo anticorpos) e fatores ambientais. Na medida em que a criança recebe outros alimentos, o sistema imunológico se desenvolve.

Por esse motivo, é fundamental a amamentação – preferencialmente até seis meses de vida – e uma dieta saudável desde a infância para criar um sistema imunológico saudável, pois já está estabelecido na literatura científica que uma alimentação deficiente na infância cria uma microbiota deficiente e, consequentemente, um sistema imunológico deficiente.

O médico cirurgião Dan Waitzberg, professor associado do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), coordenador do Laboratório de Metabologia e Nutrição em Cirurgia Digestiva (Metanutri) e da Comissão de Nutrologia do Complexo Hospitalar Hospital das Clínicas, ambos da FMUSP, e diretor presidente do Ganep Nutrição Humana, ressalta que um estudo recente confirmou que a microbiota do bebê nascido por cesariana se assemelha à do ambiente hospitalar, com várias espécies de bactérias oportunistas e algumas, inclusive, resistentes a antibióticos.

“Em um país onde a grande maioria dos nascimentos se faz por cesariana, este fato merece importante reflexão. O aleitamento materno também traz benefícios ao bebê em relação ao uso de fórmulas lácteas alimentares. Por fim, o contato com diversos ambientes ecológicos contribui para o desenvolvimento de microbiota saudável, que vai se estabelecer por volta dos 36 meses de idade”, reitera.

Cuidados na gestação

A recomendação para mulheres grávidas ou que desejam engravidar é ficarem muito atentas aos hábitos saudáveis de vida – que incluem uma dieta equilibrada –, porque existe discreta translocação microbiana da mãe para o ambiente intrauterino, o que significa que o bebê no útero não é completamente estéril como se pensava até pouco tempo.

“Sabemos que mães que têm doenças crônicas, como diabetes ou obesidade, têm problemas com a gravidez e com o parto, e as crianças são mais suscetíveis a problemas depois do nascimento. Ainda não se sabe, por exemplo, se a mãe obesa terá uma criança com risco de diabetes por causa de determinada bactéria intestinal.

Assim, a única recomendação que podemos dar para as gestantes é tentarem ter uma microbiota sistêmica normal e equilibrada, baseada em um comportamento pessoal saudável”, argumenta o professor Claudio Fiocchi, ao completar que comer em excesso, ingerir gorduras e viver estressado são fatores que interferem negativamente na microbiota intestinal.

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