Com incidência de 7 a 10 casos para cada 100 mil crianças e adolescentes nos Estados Unidos e na Europa, as doenças inflamatórias intestinais (DII) também são frequentes entre a população infantil no Brasil, embora o País não tenha números precisos da ocorrência da enfermidade. Enquanto há alguns anos a incidência era de dois a três casos novos anuais para a maioria dos serviços de Gastroenterologia Pediátrica, atualmente os especialistas e acometidos de DII. Os mesmos são atendidos por anos, até atingirem a maioridade. A DII também está aumentando em áreas outrora consideradas de baixa prevalência e em países em desenvolvimento entre populações que se mudam para áreas industrializadas.
Alguns estudos indicam que a industrialização e a globalização podem estar associadas ao aumento da distribuição da doença, e pesquisadores estão preocupados com a exposição elevada das crianças a antibióticos e a dietas específicas de alimentos processados, fritos, ricos em açúcar e baixos em ácidos graxos ômega-3, pois podem estar relacionados ao aumento do número de casos de doenças inflamatórias intestinais por interferir e alterar a microbiota intestinal. As inúmeras mutações genéticas detectadas nas últimas décadas também podem explicar cerca de 20% a 30% dos casos diagnosticados.
Para a doutora assistente do Departamento de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP) e médica na Clínica de Especialidades Pediátricas do Hospital Israelita Albert Einstein, Maraci Rodrigues, o aumento de casos pode ser explicado não apenas pela melhora no reconhecimento da doença, mas também pela presença de alterações ambientais importantes para o início da enfermidade. “O aumento evidente de DII em áreas industrializadas do mundo confirma a importância do fator de risco ambiental. Alguns avanços no estudo da frequência, da distribuição e dos determinantes dos eventos relacionados à DII nas últimas décadas podem esclarecer o aumento de casos em populações de adultos e crianças”, reforça.
Segundo o professor doutor Mauro Sergio Toporovski, médico responsável pela Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e diretor de cursos da Associação Paulista Pediátrica de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição (APPGHN), não é possível precisar se os números refletem mesmo o aumento de casos de DII na infância ou se os casos, atualmente, têm sido mais e melhor diagnosticados. “Infelizmente, a maioria dos pacientes chega aos serviços de saúde com grande comprometimento nutricional, porque as crianças já estão sofrendo com dores abdominais há dois ou três anos sem que o problema tenha sido diagnosticado e tratado corretamente”, lamenta.
O gastroenterologista informa que, em geral, os pediatras diagnosticam primeiramente as dores abdominais e diarreias como verminose, embora a prevalência desse problema seja de menos de 1% na população infantil, devido à melhor infraestrutura urbana e de saneamento básico. Até hoje, também há receio em solicitar o exame de colonoscopia, fundamental para o diagnóstico. “Os pediatras devem estar atentos aos sinais e sintomas, e têm de pensar na hipótese de doença inflamatória intestinal na infância. Mas, em geral, a maioria não está preparada para diagnosticar essas enfermidades”, enfatiza.
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