Cuidados evitam manifestações bucais

Cuidados evitam manifestações bucais

Lesões orais na DII podem ter diferentes tipos e gravidade
O envolvimento oral na DII pode ocorrer com diferentes tipos de lesões, apresentando-se como manifestação prévia da DII em torno de 10% dos indivíduos. Acredita-se que quanto mais cedo o início da doença, maior será a incidência das lesões orais, e relatos indicam 48% de envolvimento oral na população infantil com doença de Crohn. Entre as manifestações mais comuns estão as ulcerações profundas­ e lineares e as aftas. Os sintomas menos frequentes incluem a pioestomatite vegetante e as lesões granulomatosas da doença de Crohn, lesões polipoides, hiperplasia da mucosa com aspecto de ‘pedra de calçada’, mucogengi­vite, quelite­ angular e inchaço labial. Além disso, algumas­ lesões são específicas das DII. Alguns pacientes apresentam lesões bucais antes do aparecimen­to­­ de sinto­mas­ característicos da DII, o que pode ajudar o médico especialista a desconfiar­ precocemente do problema. E, em alguns­ casos, essas manifestações orais podem ser determi­nantes para o diagnóstico definitivo. Segun­do a cirurgiã-­dentista Júlia Gonçalves Araújo Assis, especialis­ta em Saúde da Família, presi­dente da Asso­cia­­ção do Leste Mineiro de Doenças­ Infla­matórias­ Intestinais (ALEMDII) e membro do Comi­tê Cientí­fi­co da entida­de, o correto diagnóstico dessas lesões pode indicar uma investigação no sistema gastrointestinal por completo, levando a achados endoscópicos que fecham o diagnóstico da DII. “Lesões orais relacionadas à doença de Crohn podem ser classificadas como manifestações específicas quando a análise histológica demonstra um padrão de inflamação granulomatoso característico da doença”, acrescenta a professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Veiga de Almeida, Fernanda Brito, pós-dou­tora em Periodontia e colaboradora em pesquisa do Karolinska Institutet, em Estocolmo, na Suécia. Normalmente, algumas manifestações orais associadas aos sinais e sintomas da doença inflamatória intestinal podem reforçar a suspeita. No entanto, o diagnóstico é baseado, inicialmente, na história clínica do paciente e confirmado por meio de exames de endoscopia, colonoscopia e achados patológicos. A cirurgiã-dentista Júlia Gonçalves Araújo Assis lembra que o corpo humano­ é formado de sistemas interligados, e as manifestações na mucosa bucal também fazem parte deste processo. “As lesões bucais nas DII podem preceder o aparecimento dos sintomas intestinais, mas existem casos em que se manifestam concomitantemente e até mesmo continuam a aparecer mesmo com o paciente em remissão”, explica. O correto conhecimento e diagnóstico clínico e histopatológico das lesões orais específicas podem auxiliar no diagnóstico da DII. Um bom exemplo é a pioestomatite vegetante, mais comum na retocolite ulcerativa, ou a manifestação oral da doença de Crohn. Por esse motivo, em casos suspeitos é importante fazer uma investigação histopatológica da lesão para que o resultado possa auxiliar no diagnóstico da doença de base. “Eu diria que as manifestações orais são bons indicadores de DII. Na maioria das vezes, algumas dessas manifestações, associadas aos sinais e sintomas gerais, podem reforçar a suspeita da doença. No entanto, apenas os casos de hiperplasia da mucosa oral com aspecto de paralelepípedo seriam reais marcadores de diagnóstico na doença de Crohn”, diz a professora Fernanda Brito. Aftas constantes Algumas pessoas têm aftas de repetição, lesões que surgem por diversos motivos e estão ligadas a uma diversi­dade de doenças. Embora pacientes com doenças inflamatórias intestinais possam ter mais lesões aftosas que a população geral, só o aparecimento da lesão não é relatado como predisposição a desenvolver DII. “As lesões bucais ligadas às DII podem ser confundidas com aftas e é aconselhável que um dentista experiente faça o correto diagnóstico. Somente depois disso podemos suspeitar ou não da presença de DII”, destaca a dentista Júlia Gonçalves Araújo Assis. [cs_divider size=”cstheme-shortcode” type=”line” color=”#EEEEEE” height=”1px”]

ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR

As manifestações orais das DII geralmente têm um curso prévio ou paralelo à atividade da doença. Como podem preceder o aparecimento dos sintomas intestinais, o ideal é que, caso haja comprometimento da mucosa bucal com lesões suspeitas, o trato gastrointestinal também seja avaliado. Essas manifestações também podem ser um indicativo do curso da doença, pois muitos pacientes apresentam lesões bucais durante a fase ativa da DII e regridem com o tratamento. Em várias situações, a alimentação fica prejudicada devido às lesões, comprometendo o estado nutricional dos doentes. Por esse motivo, as manifestações orais relacionadas às DII constituem um problema clínico que exige multidisciplinaridade, a fim de promover a melhora na qualidade de vida. A abordagem multidisciplinar em relação às manifestações e cuidados orais deve envolver a presença do cirurgião-dentista, que poderá auxiliar no correto diagnóstico e na melhor conduta a ser adotada para o paciente, a fim de limitar o dano já causado. Indivíduos com DII também apresentam maior prevalência de periodontite e de cáries. Um estudo prévio realizado na UERJ com pacientes demonstrou que indivíduos com DII e periodontite abrigavam, na cavidade oral, uma maior quantidade de microrganismos capazes de causar infecção hospitalar. “Essas doenças não são caracterizadas como manifestações orais clássicas da DII, mas são as duas principais enfermidades e afetam muitos pacientes. E a cavidade oral é um foco de infecção e merece mais atenção”, alerta a professora Fernanda Brito. A docente, que estuda a doença periodontal em indivíduos com DII desde 2007, afirma que o padrão da periodontite é um pouco diferenciado nesses doentes e é provável que exista alguma influência da medicação, porque se observa menos bolsas periodontais e mais destruição óssea, apesar de não haver diferença nos tipos de bactérias presentes. Entretanto, mais estudos são necessários para esclarecer essas questões. O aconselhável é visitar o dentista de 6 em 6 meses e, nos casos de maior risco de cáries e periodontite, diminuir o intervalo das consultas. O tratamento mais simples da doença periodontal consiste de raspagens supra e sub-gengivais e, nos casos mais graves, o tratamento é cirúrgico. Já as cáries serão tratadas com aplicação de flúor em suas diversas formas até restaurações, dependendo do estágio e da atividade da doença. A visita periódica ao cirurgião-dentista e os cuidados com a higiene bucal podem auxiliar e prevenir o aparecimento dessas doenças e diminuir as complicações. As especialistas reforçam que o paciente nunca deve se automedicar, principalmente com anti­inflamatórios não esteroidais, pois são contraindicados para pacientes com DII e podem agravar a doença. Para a cirurgiã-den­tista Júlia Gonçalves Araújo Assis, é necessário que os profissionais estejam atualizados sobre acometimentos bucais das DII. “Esta é uma necessidade real, pois as manifestações bucais são estudadas de forma genérica e uma atualização específica é necessária para ampliar e facilitar o diagnóstico precoce e o pronto atendimento desses pacientes”, reforça. [cs_divider size=”cstheme-shortcode” type=”line” color=”#EEEEEE” height=”1px”]

HIGIENIZAÇÃO AJUDA A EVITAR PROBLEMAS

Cuidados com a higiene da boca podem abrandar a sintomatologia, prevenir e controlar­ o aparecimento de cáries e doença periodontal relacionadas às DII, além de evitar as complicações e o aparecimento de manifestações orais. Nos casos de lesões associadas às doenças inflamatórias intestinais, os cuidados com a higiene bucal auxiliam na diminuição das inflamações e na possibilidade de infecções oportunistas. “A adequada higiene oral é a principal prevenção para as doenças periodontais e cáries. Nos casos de doenças crônicas, como na DII, os indivíduos estão tão preocupados com a sua saúde que acabam negligenciando os cuidados bucais. É importante enfatizar sobre a importância da saúde bucal e orientá-los para evitar a ocorrência de doenças orais ou para que estas não se agravem”, aconselha a docente Fernanda Brito. Normalmente, as lesões bucais tendem a desaparecer com o tratamento da DII, antes dos sintomas intestinais e durante o curso da doença, e regridem com o tratamento da doença de base. Em casos mais graves ou dolorosos, podem ser utilizados medicamentos tópicos e/ou sistêmicos, e as infecções oportunistas que se manifestam na boca devem ser tratadas com medicamentos específicos. Porém, em algumas pessoas, o próprio tratamento predispõe ao aparecimento de lesões bucais de etiologia diferente. “Este é um assunto complexo, pois as lesões bucais podem ser ou não específicas das DII”, afirma a cirurgiã-dentista Júlia Gonçalves Araújo Assis. Alguns medicamentos utilizados no tratamento das doenças inflamatórias intestinais podem interferir na microbiota oral, estimular o aparecimento de lesões na cavidade oral, predispor ao aparecimento de úlceras e placas e até favorecer infecções oportunistas, como candidíase oral, estomatite herpética e outras menos comuns. Foto: Pixabay / jarmoluk
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John Doe

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