Enteroscopia por cápsula fica liberada pelos convênios

Enteroscopia por cápsula fica liberada pelos convênios

Desde abril, os convênios médicos passam a garantir o exame de enteroscopia por cápsula endoscópica para pacientes com doença inflamatória intestinal. O procedimento visa estudar endoscopicamente o intestino delgado, que não consegue ser acessado em toda sua extensão pelos exames de endoscopia digestiva alta e colonoscopia.

O exame foi aprovado no novo Rol de Procedimentos da ANS para sangramento gastrointestinal de origem obscura, definido e caracterizado por um sangramento que persiste ou recorre originário do trato digestório. O problema pode se manifestar por hemorragia ou anemia em que o ponto ou os pontos responsáveis pelo sangramento não são detectados pela endoscopia digestiva alta, colonoscopia e exames radiológicos.

Outro importante papel da avaliação endoscópica do intestino delgado por meio deste exame é auxiliar no diagnóstico diferencial entre doença de Crohn e outras enfermidades, em especial dentre outras doenças inflamatórias e infecciosas, assim como permitir a investigação de alguns sinais e sintomas em pacientes que estão em tratamento.

Segundo a gastroenterologista e endoscopista Paula Bechara Poletti, médica assistente do Serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital 9 de Julho e diretora do Serviço de Gastroenterologia e Hepatologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, como as DII se caracterizam por inflamação da mucosa, muitas vezes com úlceras e erosões – entre outras alterações –, tanto sangramento quanto anemia podem ocorrer e, quando a lesão ou as lesões estiverem localizadas no intestino delgado, geralmente não são diagnosticadas pelos exames mais convencionais.

“Essa avaliação é muito importante e necessária em algumas situações, em especial para o diagnóstico da doença de Crohn com acometimento exclusivo do intestino delgado. Sabemos que cerca de 70% dos pacientes com doença de Crohn têm comprometimento do intestino delgado, e a avaliação da existência ou ausência de lesões, extensão, grau e características deste acometimento podem resultar em alterações da terapêutica medicamentosa, assim como no manejo da doença”, afirma.

Além de permitir a avaliação endoscópica de toda a extensão do intestino delgado, outras vantagens da enteroscopia por cápsula endoscópica – quando comparada com as diferentes técnicas de enteroscopia – é ser um exame indolor e não invasivo, prescindindo da utilização de sedativos e com baixíssimo risco de complicações.

“A principal desvantagem é não propiciar a realização da coleta de biópsias ou realização de abordagens terapêuticas”, detalha a médica. A enteroscopia por cápsula endoscópica contribui para o diagnóstico diferencial de todas as patologias que acometem o intestino delgado, entre as quais suspeita de doença de Crohn e avaliação do acometimento desse segmento do intestino nesta DII; avaliação de anemia por deficiência de ferro; suspeita de neoplasia do intestino delgado; suspeita e avaliação em casos de refratariedade de síndromes disabsortivas; suspeita e avaliação da doença celíaca e acometimento do intestino delgado nas síndromes poliposas do trato gastrointestinal (veja quadro).

“Na realidade, o exame vem colaborar e somar informações preciosas aos demais exames já realizados rotineiramente, uma vez que estes procedimentos não conseguem avaliar o intestino delgado na sua totalidade”, relata. A médica conta que, atualmente, a enteroscopia por cápsula não substitui os exames de endoscopia ou colonoscopia, mas já existe na Europa um modelo de cápsula em fase inicial de experiência com o intuito de tentar substituir esses exames, quando forem indicados apenas para reavaliação do tratamento em pacientes com quadro clínico estável e assintomáticos.

Devido à complexidade, necessidade de profissionais com expertise e custo elevado, atualmente o exame não se encontra disponível de forma ampla no Brasil. Mas, com a aprovação pela ANS, a esperança é de que outros locais ofereçam o procedimento em médio prazo.

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O exame

Após preparo que inclui jejum e, em alguns casos, uso de laxante, o paciente comparece ao Setor de Endoscopia onde serão instalados os sensores ou cinturão e o Recorder – espécie de gravador que capta todas as imagens obtidas pela cápsula. Em seguida, o paciente ingere a cápsula (exatamente como se estivesse ingerindo um comprimido ou cápsula de medicamento) e é liberado, retornando após cerca de 8 a 12 horas para retirada do Recorder, cinturão ou sensores.

As imagens gravadas pela passagem da cápsula pelo intestino delgado transmitidas para o Recorder são transformadas em um filme, que será avaliado pelo médico endoscopista que elaborará o relatório do exame. Diferentemente dos demais procedimentos endoscópicos, a enteroscopia por cápsula endoscópica é indolor e não necessita de sedação ou medicações, salvo em condições muito especiais.

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Recomendações

A enteroscopia por cápsula endoscópica é indicada pela Sociedade Europeia de Doenças Inflamatórias Intestinais, sociedades europeia, norte-americana e mundial de Endoscopia Digestiva, e sociedades europeia e norte-americana de Gastroenterologia nas seguintes situações:

  • Diagnóstico em pacientes com suspeita clínica de doença de Crohn do intestino delgado.
  • Avaliação da extensão e grau de atividade do acometimento do intestino delgado na doença de Crohn.
  • Avaliação da anemia por deficiência de ferro e sangramento gastrointestinal obscuro na doença de Crohn.
  • Avaliação de sintomas gastrointestinais persistentes, apesar da terapia e de achados normais nos exames de imagem do
    intestino delgado e ileocolonoscopia.
  • Diagnóstico diferencial das formas de DII indeterminadas.
  • Excluir atividade ou diagnóstico de doença de Crohn do intestino delgado (alto valor preditivo negativo).
  • Diagnóstico diferencial entre doença de Crohn em atividade versus outras patologias.
  • Avaliação da recorrência da doença de Crohn no pós-operatório.
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