Incidência de doença inflamatória intestinal tem aumentado nos indivíduos com mais de 60 anos e o diagnóstico e tratamento podem ser um desafio
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (ONU), o mundo terá aproximadamente 2 bilhões de idosos com 60 anos ou mais em 2050 e, em 2100, as estimativas sugerem que essa população triplique em relação aos dias atuais.
Essa perspectiva faz do envelhecimento populacional uma das transformações sociais mais significativas do século XXI e um grande desafio para a Medicina, porque é nesta época da vida que surgem, mais frequentemente, doenças metabólicas, cardiovasculares, câncer e as enfermidades degenerativas como Parkinson e Alzheimer.
Associado a este fato, há um reconhecido aumento de incidência e prevalência das doenças inflamatórias intestinais (DII) nesta faixa etária. Atualmente, diferentes estatísticas têm mostrado que 25% a 35% dos pacientes com DII têm mais de 60 anos, parte deles recebendo o diagnóstico a partir desta idade.
As doenças inflamatórias intestinais atingem mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo, e de 10% a 20% dos casos são diagnosticados após os 60 anos. A maioria dos estudos de coorte, oriundos de diferentes países, tem demonstrado maior prevalência da retocolite ulcerativa nesta população – que é mais comum em homens – em comparação à doença de Crohn, que tem maior predominância no sexo feminino. “É fato que as DII estão se tornando cada vez mais frequentes na população idosa que procura os consultórios médicos.
Destacam-se dois grupos de pacientes: aqueles que têm a doença diagnosticada aos 60 anos ou mais e que perfazem 15% das casuísticas e, no segundo grupo, os indivíduos que tiveram o diagnóstico ainda jovens e que envelheceram com a doença, que somam 20% dos casos”, acentua a médica gastroenterologista Maria de Lourdes de Abreu Ferrari, professora associada do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Embora alguns idosos apresentem as DII de forma atípica como, por exemplo, com constipação na retocolite, a grande maioria desses pacientes tem apresentação clínica que se assemelha à observada na população mais jovem com doença inflamatória intestinal.
No entanto, alguns autores chamam a atenção para as manifestações clínicas que se mostram mais sutis. “As alterações fisiológicas que acompanham o envelhecimento ocasionam um estado de saúde heterogêneo que repercute nas manifestações clínicas das DII. Sintomas sistêmicos, como febre e perda de peso, são observados em frequência menor nesta faixa etária”, detalha a professora, ao destacar que as diferenças também estão presentes no comportamento e na localização das doenças.