A pesquisa do Instituto Lado a Lado pela Vida identificou vários desafios importantes não só para os cuidadores de idosos, mas para qualquer pessoa que cuide de alguém que requeira assistência, seja temporária ou definitiva.
Para Marlene Oliveira, um dos grandes desafios é a jornada desgastante, e mais da metade dos participantes do estudo assumiu a tarefa de cuidar de outra pessoa há pelo menos cinco anos, enquanto 23% fazem esse trabalho por mais de 10 anos.
“Oito em cada 10 entrevistados se dedicam a cuidar de alguém todos os dias e 34% não têm sequer com quem revezar. Mais de 90% assumiu o papel de cuidador por ser o parente mais próximo ou por não ter condições financeiras para contratar um profissional”, lamenta. Além disso, ¼ dos entrevistados cuidam de pacientes com doenças neurodegenerativas, o que exige apoio nas tarefas mais básicas.
Outro grande desafio é que seis em cada 10 cuidadores familiares têm pelo menos 50 anos de idade, e 27% já está com 60 anos ou mais, o que significa que muitos idosos – nem sempre saudáveis – estão cuidando de outros idosos ainda mais doentes ou debilitados.
“Essa é uma faixa etária que, independentemente de cuidar de alguém, precisa estar mais atenta aos sinais do próprio envelhecimento. Como muitos não têm com quem revezar a tarefa de cuidar, isso certamente impacta em dar atenção às suas próprias necessidades para manter um calendário regular de visitas ao serviço de saúde ou ao médico, com a alimentação, a prática de atividade física e sono adequado, situações que compõem um amplo conjunto de atividades necessárias para a boa qualidade de vida”, argumenta Marlene Oliveira. Por isso, é fundamental que o cuidador busque orientação de profissionais de saúde se perceber que a sua própria saúde está sendo impactada.
Segundo a geriatra Maisa Kairalla, o objetivo da Medicina é que as pessoas cheguem aos 60 ou 70 anos com muita vitalidade e que tenham condições de trabalhar, mas ter de cuidar de um outro idoso é uma situação preocupante. “Isso é muito importante ser discutido.
Existem trabalhos direcionados para diminuir o estresse do cuidador que acho extremamente importantes. Além disso, o médico tem de estar atento a esse cuidador independentemente da idade, mas, com ainda mais atenção se também já for idoso.
Para que possa encaminhar bem o tratamento do idoso, o bem-estar do cuidador é fundamental, cabendo ao médico conversar e entender cada situação”, reforça. Os cuidadores familiares também são muito impactados emocionalmente pela doença daqueles a quem se dedicam e, muitas vezes, são tomados por sentimentos de tristeza, raiva, culpa e medo. Por isso, é muito importante ter um olhar humano para o cuidador, ajudando a evitar esses sentimentos e tentando construir um bem-estar psicológico para esses indivíduos.