No Brasil, estima-se um crescimento anual na incidência de doença de Crohn e retocolite ulcerativa em 11% e 15%, respectivamente, e os dados mostram que, de todos os pacientes com DII, aproximadamente 25% desenvolvem as doenças antes dos 20 anos de idade. Em geral, crianças com DII têm baixa qualidade de vida, alto absenteísmo escolar, baixa autoestima, dificuldade de socialização, desaceleração da curva pondo-estatural e da puberdade.
Pacientes pediátricos também tendem a desenvolver uma forma mais grave da doença – geralmente, a RCU é mais extensa em 60% a 80% de todos os casos e duas vezes mais frequente que nos adultos e a doença de Crohn pediátrica se apresenta mais extensa e com envolvimento ileocolônico, quando comparada ao adulto.
Com o novo Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da ANS, pacientes a partir de seis anos de idade com retocolite ulcerativa moderada a grave passam a ter acesso ao adalimumabe, um anticorpo monoclonal, como primeira opção de tratamento subcutâneo antiTNF. A aprovação baseia-se nos resultados do estudo principal de fase 3, no qual o medicamento apresentou taxas significativas de resposta e remissão clínica.
O medicamento está indicado para retocolite ulcerativa moderada a grave em pacientes pediátricos acima de seis anos de idade, que apresentaram resposta inadequada à terapia convencional, incluindo corticosteroides, 6-mercaptopurina e azatioprina, que são intolerantes ou têm contraindicações médicas para essas terapias. Até agora, a outra opção para a doença na faixa pediátrica, com as mesmas recomendações, era o anti-TNF infliximabe, com administração intravenosa.
Segundo a gastroenterologista pediátrica Maraci Rodrigues, professora doutora assistente do Departamento de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), a extensão da DII está associada com a gravidade, justificando a maior necessidade de hospitalizações por colite aguda grave e maior taxa de colectomia (procedimento cirúrgico para remover a totalidade ou parte do seu cólon) devido à doença refratária pediátrica, embora este índice venha diminuindo com o uso de agente biológico.
“A aprovação do adalimumabe pela Anvisa trará um impacto muito positivo no tratamento da retocolite ulcerativa pediátrica, pois é outra opção de anti-TNF com administração subcutânea e que não exige a comboterapia com imunossupressor”, destaca.
A médica lembra que uma resposta inadequada à terapia convencional em retocolite ulcerativa nesta fase da vida significa que essas crianças não entraram em remissão clínica (Índice de Atividade da Colite Ulcerativa – PUCAI ?10) após o uso de mesalazina, corticoide e tiopurinas (azatioprina ou 6-merpactopurina), lembrando que o corticoide não deve ser usado como terapia de manutenção e que o início da ação dos tiopurinas é cerca de três meses após o início do tratamento.
Além do comprometimento da qualidade de vida, do crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes, os maiores riscos de agravamento da RCU pediátrica – se não for atingida a cicatrização da mucosa intestinal – envolvem maior possibilidade de internações com colite aguda grave, necessidade de colectomia total, perda da motilidade e da função do cólon, assim como risco de displasia do cólon.
Na doença de Crohn pediátrica, os sintomas mais comuns são dor abdominal, perda de peso, doença perianal e anemia. Já na RCU, os sintomas mais comuns incluem diarreia muco-sanguinolenta, urgência para evacuar, tenesmo e anemia. Também podem estar presentes, em ambas as doenças, sintomas como febre, déficit de crescimento e pubertário – com predomínio na doença de Crohn pediátrica, inclusive como únicas manifestações iniciais.
Além disso, manifestações extraintestinais podem estar presentes, a exemplo de artralgias, aftas orais, artrite, eritema nodoso, pioderma gangrenoso, colangite esclerosante primária, hepatite autoimune, pancreatite e espondilite anquilosante.
“Os profissionais envolvidos na DII pediátrica precisam estar unidos em uma equipe multidisciplinar para repassar o conhecimento da doença, a autoconfiança e a responsabilidade no tratamento, com o compromisso de atingir os alvos da terapia personalizada, garantindo o crescimento, a puberdade e o desenvolvimento adequado do paciente, e construindo o momento de transição dos cuidados da doença para os adultos”, orienta.