A enfermeira Débora Weber, de 32 anos, conta como descobriu o Crohn e de que maneira convive com a doença
“Minha história com a doença de Crohn começou muito cedo, embora a tenha descoberto somente aos 27 anos de idade. Minha mãe conta que, desde criança, eu já apresentava sintomas de distúrbios digestivos, com algumas internações, constipação alternada com quadros diarreicos e muito desconforto epigástrico. Moro em Nova Petrópolis, na serra gaúcha, onde nos anos 1980 os recursos eram limitados. Aos 12 anos tive uma crise acentuada de diarreia. Pensava-se em intoxicação alimentar, mas a situação perdurou por 15 anos. Preocupada, consultei vários profissionais gastroenterologistas e proctologistas. Foram incontáveis consultas, endoscopias, colonoscopias e exames laboratoriais. Os diagnósticos eram sempre os mesmos: intolerância à lactose e ao glúten, síndrome do intestino irritável.
Eu fazia tudo que me mandavam e só piorava. Sentia-me incompreendida pelos médicos, pela família e pelos amigos. Aos 27 anos tive um emagrecimento acentuado de 20 quilos em dois meses, diarreia com sangue, dor abdominal inexplicável e vômitos. Não conseguia comer. Se comia, vomitava. Voltei ao gastroenterologista e fui encaminhada para um psiquiatra, já que os exames não apresentavam alterações. Diagnóstico: bulimia e anorexia. Eu chorava muito, pois não tinha distorção de imagem e muito menos provocava os vômitos. Estava tudo errado, eu sentia dor e as pessoas ao redor me julgavam.
Em novembro de 2011 não consegui levantar da cama. Urinei sangue e não tinha forças. Uma tia me levou para um hospital em Caxias do Sul e fui internada com suspeita de pielonefrite. No quarto dia de internação, meu abdômen triplicou de tamanho. Eu não conseguia comer e não evacuava mais. Após passar por avaliação com um gastroenterologista, fui operada às pressas. A esta altura era a minha única chance de sobreviver. Saí do bloco cirúrgico e fui encaminhada para a UTI, pois tive uma complicação respiratória. O saldo foi ressecção de 67cm de intestino delgado, apendicectomia e uma ileostomia. Acordei dois dias depois entubada, usando drenos e sondas e com a triste notícia de que estava ileostomizada.
Como na época eu cursava enfermagem, sabia o que me esperava. Foram dias difíceis, vomitei fezes, tive de usar fraldas, reaprender a caminhar e a respirar sozinha. Apesar de tudo que estava passando me sentia aliviada, pois a prova estava ali: eu realmente estava doente e as pessoas deveriam acreditar em mim! Soube 15 dias depois que era doença de Crohn. Quando o médico deu o resultado quase parei de respirar, pois sabia que se tratava de uma doença grave e sem cura. Fui encaminhada para a doutora Marta Brenner Machado, na PUC em Porto Alegre.
Ainda ileostomizada, comecei o tratamento com imunossupressor oral. Após quatro meses, reverti a ileostomia. As lesões voltaram em cinco meses, quando a médica decidiu usar biológico (Infliximabe). Faço o uso desta medicação há quatro anos e meio e minha qualidade de vida aumentou muito! Busquei ajuda psicológica, faço uso de ansiolíticos e antidepressivos, pois é sabido que o fator psicológico colabora para a piora das crises. O que penso sobre a doença hoje? Eu renasci depois dela. Descobri que, se formos grandes amigas, seremos mais felizes. Do contrário, ela pode me matar! Hoje me sinto feliz em ajudar pessoas que sofrem com DII, aliás, este se tornou meu propósito de vida.”