O engenheiro civil Leonardo Gandur Giovanelli, de 24 anos, garante que é possível encarar a doença e ser feliz
“Desde o ensino médio, resolvi cursar engenharia. Fui aprovado em três cursos diferentes: ambiental, mecânica e civil, e comecei a estudar engenharia civil na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2011. Em maio daquele ano, eu estava superfeliz, porque já morava sozinho e fazia o curso que queria.
Tudo estava perfeito até que sofri um acidente grave de skate e quase morri. Apesar de ter passado por momentos complicados, consegui me recuperar completamente. Mal sabia eu que, no ano seguinte, começaria outra situação em que minha capacidade de recuperação seria colocada à prova novamente.
Em 2012, aos 18 anos de idade, o único problema de saúde que me incomodava um pouco eram as aftas, sempre frequentes. Até que, em maio daquele ano, descobri sangue nas fezes e fomos procurar um especialista. A primeira suspeita era de hemorroidas, no entanto, com exames mais precisos o médico fechou o diagnóstico: doença de Crohn.
Com isso, a vida de universitário que eu havia planejado teve de sofrer adaptações. Embora matriculado na Unicamp, nos dois anos seguintes não consegui cursar, porque não tinha como viver longe da família, dos hospitais e dos médicos.
Em 2013, tive de frequentar o curso na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP), como aluno especial. Em 2014, comecei a cursar engenharia ambiental como aluno regular e, embora não fosse o que eu queria, era o possível naquele momento e segui em frente.
A doença começou a complicar, tomei dois medicamentos biológicos, mas precisei passar por uma cirurgia em dezembro de 2014. Os médicos retiraram o intestino grosso, fizeram uma ostomia e minha vida melhorou. Consegui voltar para Campinas e, finalmente, estudar engenharia civil na instituição que havia escolhido.
Entretanto, em dezembro de 2015 fiquei mal e tive de me submeter a outra cirurgia para retirada do reto e colocação de bolsa ileal que, desde julho de 2016, não uso mais. No início deste ano, precisei operar uma hérnia – isso aconteceu porque o judô forçou muito meu abdômen e a região da cicatriz das cirurgias não aguentou. Mas estou bem! Acredito que, na vida, precisamos ser realistas e assumir as situações que surgem da melhor maneira possível.
As mudanças fazem parte, assim como as adaptações, mas é preciso buscar soluções para cada um dos problemas. Claro que o Crohn mudou a minha vida, mas também demonstrou a minha capacidade de resiliência e de adaptação.
Mas estou bem! Acredito que, na vida, precisamos ser realistas e assumir as situações que surgem da melhor maneira possível. As mudanças fazem parte, assim como as adaptações, mas é preciso buscar soluções para cada um dos problemas. Claro que o Crohn mudou a minha vida, mas também demonstrou a minha capacidade de resiliência e de adaptação.
Toco bateria, gosto de fotografia e adoro esportes – especialmente surfar. Também amo pedalar, treinei judô por muito tempo e só parei por causa da hérnia. Acho que aprender a lidar com o Crohn pode ser encarado como aprender a surfar: é um processo gradual, que vai melhorando a cada nova onda, e precisamos analisar o tamanho e a velocidade das ondas antes de encará-las.
A doença de Crohn é como o mar, que tem de ser respeitado, mas, dependendo do tamanho da onda, não podemos nos aventurar. Demonstrei isso neste ano, quando passei seis semanas surfando e estudando inglês em San Diego, na Califórnia, Estados Unidos. Estou animado porque me formei em 2017 e acabo de começar a trabalhar em uma grande construtora de São Paulo.
Tenho planos de ganhar o suficiente para me sustentar, sair de casa e morar sozinho. Encaro a vida com realismo: reclamar para quê, se isso não muda nada? Ao enfrentar uma doença crônica, precisamos respeitar os nossos limites, contar com o suporte da família, que é muito importante, não desesperar e, principalmente, não desistir!”